quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

UMA DAS MARIAS


UMA DAS MARIAS
Um dia, Maria chegou em casa da escola, muito triste.
— O que foi? — perguntou a mãe de Maria.
Mas Maria nem quis conversa. Foi direto para o seu quarto, pegou o seu Snoopy  e se atirou na cama, onde ficou  deitada, emburrada.
A mãe de Maria foi ver se Maria estava com febre. Não estava. Perguntou se estava sentindo alguma coisa. Não  estava. Perguntou se estava com fome. Não estava. Perguntou o que era, então.
— Nada — disse Maria.
A mãe resolveu não insistir. Deixou  Maria deitada na cama, abraçada com o seu
Snoopy, emburrada. Quando o pai de  Maria chegou em casa do trabalho a mãe de Maria avisou:
— Melhor nem falar com ela...
Maria estava com cara de poucos amigos. Pior. Estava com cara de amigo nenhum.
Na mesa do jantar, Maria de repente falou:
— Eu não valo nada.
O pai de Maria disse:
— Em  primeiro lugar, não se diz “eu não valo nada”.  É “eu não valho nada”. Em segundo lugar, não é verdade.Você  valhe muito. Quer dizer, vale muito.
— Não valho.
— Mas o que é isso? — disse a mãe de Maria.  — Você é a nossa querida. Todos gostam de você. A mamãe, o papai,  a vovó, os tios, as tias. Para nós, você é uma preciosidade.
Mas Maria não se convenceu. Disse que era igual a mil outras pessoas. A milhões de outras pessoas.
— Só na minha aula tem sete Marias!
— Querida... — começou a dizer a mãe. Mas o pai interrompeu.
— Maria  —  disse o pai — você sabe por que um diamante vale tanto dinheiro?
— Porque é raro. Um pedaço de vidro também é bonito. Mas o vidro se encontra em toda parte. Um diamante é difícil  de encontrar. Quanto mais rara é uma coisa, mais ela vale.  Você sabe por que o ouro vale tanto?
— Por quê?
— Porque tem pouquíssimo ouro no mundo. Se o ouro fosse como areia, a gente ia caminhar no ouro, ia rolar no ouro,  depois ia chegar em casa e lavar o ouro do corpo para não ficar suja. Agora, imagina se em todo  o mundo só existisse uma  pepita de ouro.
— Ia  ser a coisa mais valiosa do mundo.
— Pois é. E em todo o mundo só existe uma Maria.
— Só na minha aula são sete.
— Mas são outras Marias.
— São iguais a mim. Dois olhos, um nariz...
—Mas esta pintinha aqui nenhuma delas tem.
— É...
— Você já se deu conta que em todo mundo só existe uma você?
— Mas pai...
— Só uma. Você é uma raridade. Podem existir outras parecidas. Mas você, você mesmo, só existe uma. Se algum dia  aparecer outra você na sua frente, você pode dizer: é falsa.
— Então eu sou a coisa mais valiosa do mundo.
— Olha, você deve estar valendo aí uns três trilhões...
Naquela noite a mãe de Maria passou perto do quarto dela e ouviu Maria falando com o Snoopy:
— Sabe um diamante?
                                        Luís Fernando Veríssimo,  Folha de S. Paulo, 

Interpretação de texto
1) Por que Maria chegou da escola tão triste?
(      )  Foi mal na prova.
(      )  A professora gritou com ela.
(      )  Uma amiga a desprezou.
(      )  Sentia-se sem valor.   
(      )  Estava doente.

2) De que forma o pai de Maria a ajudou a sentir-se melhor:
(      )  Mostrou-lhe que ela era única.  
(      )  Comprou-lhe uma roupa nova.
(      )  Foi ao shopping com ela.
(      )  Deu-lhe um presente  muito caro.
(      )  Saiu com ela para tomar sorvete.
  
3) O texto é uma narrativa e contém vários diálogos. Que sinal de pontuação foi usado para introduzi-los?
(       ) Travessão    
(       )  Hífen
(       )  Vírgula
(       )  Aspas
(       )  Reticências

4) Substitua a expressão em negrito pelo verbo que mais se aproxime do seu significado na frase: 
      “Você já se deu conta que em todo mundo só existe uma você?”
(       )  Encontrou
(       )  Percebeu  
(       )  Achou
(       )  Buscou
(       )  Olhou

           

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